Intervenção de Paulo Vinícius Santos da Silva, Secretário de Juventude Trabalhadora da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras de Brasil na Conferência de Juventude Sindicalista da Federação Sindical Mundial. Lima, Peru, 18-20 de novembro de 2009.
Contribuição da CTB-Brasil à Conferência Internacional da Juventude Sindicalista.
Lima, Peru, 20 de novembro 2009.
Dedico essa intervenção a dois heróis do povo brasileiro, Zumbi dos Palmares - em cuja homenagem nessa data celebramos em marchas por todo o Brasil o Dia da Consciência Negra -, e Diógenes Arruda Câmara - bravo lutador pela democracia no Brasil - cuja morte completa 30 anos neste 25 de novembro.
Sindicalismo para a juventude, juventude para o sindicalismo.
Nesses dias em que as mentiras do “pensamento único” perderam a legitimidade arrogante do passado, é fundamental que o movimento sindical fale ao conjunto da juventude. Na triste noite neoliberal, os apologistas do individualismo cínico intentaram destroçar a principal característica nossa condição juvenil: a busca da construção de uma nova realidade em que caibam as novas gerações e a nossa rebeldia. A juventude luta principalmente por causas, não por cosas.
Todavia, essa ofensiva de direita tem cobrado um terrível preço ao movimento sindical. É necessário reconhecer que a defensiva estratégica de princípios dos noventa, a ênfase no individuo, o poder da grande mídia, o consumismo e suas ilusões foram responsáveis pelo afastamento de importante parte da juventude do movimento sindical. Reconhecer isso é fundamental para entender o desafio atual do movimento sindical classista: abrir as portas dos sindicatos aos jovens como condição de nosso próprio futuro e da nova luta pelo socialismo.
Ademais, a terceira revolução técnico-científica tem posto os jovens como protagonistas do processo produtivo em setores estratégicos e tem mudado a composição do proletariado. A juventude tem papel decisivo em categorias importantíssimas e temos que valorizar as oportunidades de crescimento nesses setores. O capital, hipocritamente, diz que deseja um “novo profissional”, que tenha iniciativa, consciência crítica para interferir e melhorar o processo produtivo, que trabalhe em equipes e tenha compromisso com os resultados coletivos, domínio de idiomas, filosofia, constante capacitação, etc.
Mas, como os jovens podem aceitar isso, se é feito somente em função dos mesmos capitalistas que destroem nossos sonhos de juventude, que nos excluem do emprego, que nos exploram brutalmente, que destroem sem pudores a natureza, que nos discriminam e separam por nossa condição de indígenas, negros, migrantes, mulheres e até por nossa opção sexual, a maneira de vestir e falar?
Em verdade, a produção mesma pede estes novos profissionais sim, e não apenas ela, porque a produção, a natureza ameaçada, a própria subjetividade humana negam as relações sociais capitalistas. Persiste vigente a lei da correspondência necessária entre as forças produtivas e as relações de produção, anunciando o anacronismo do capitalismo, cujas relações sociais baseadas na prevalência do lucro acima de qualquer coisa, colocando em risco a própria humanidade. Assim, há que dizer claramente que só o socialismo pode garantir aos jovens de hoje e de manhã o futuro. E temos que dizer isso à juventude que trabalha sob uma alienação brutal e não compreende as razões de seu desemprego e frustrações.
A redução da Jornada e a luta contra a Precarização do Trabalho
“A alienação do trabalhador em seu objeto é expressa da maneira seguinte, nas leis da Economia Política: quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem para consumir; quanto mais valor ele cria, tanto menos valioso se torna; quanto mais aperfeiçoado o seu produto, tanto mais grosseiro e informe o trabalhador; quanto mais civilizado o produto, tão mais bárbaro o trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, tão mais frágil o trabalhador; quanto mais inteligência revela o trabalho, tanto mais o trabalhador decai em inteligência e se torna um escravo da natureza.” Marx, Manuscritos Econômicos e filosóficos, O Trabalho Alienado.
Diante dessa realidade, é indispensável que todo o movimento sindical tenha como bandeiras centrais - pelo sentido especial que têm para toda a classe e em especial para a juventude – a defensa da redução da jornada de trabalho e a luta contra a precarização do trabalho. Desde os anos setenta do século passado com o advento da 3ª. revolução técnico-científica, avançou exponencialmente a produtividade do trabalho. Um(a) operário(a), um(a) campesino(a), um(a) trabalhador(a) dos serviços hoje em dia produz muito mais, sob um brutal ritmo de trabalho, e sua paga é exatamente a precarização das relações de trabalho. Não recebem mais, muito ao contrário, especialmente se levarmos em conta as proporções entre o produzido e recebido. E nas mesmas horas de trabalho – que muitas vezes são ampliadas - produz-se um mais valor cuja consequência é a demissão de seus colegas e novas moléstias laborais, inclusive psicológicas. E a juventude que realiza o mesmo trabalho dos demais, recebe menos e está sempre ameaçada com a demissão que intenta calar seu potencial rebelde.
Assim, a luta para incorporar as novas gerações à luta sindical é indissociável da defesa da redução da jornada e da luta contra a precarização. Reduzir a jornada e lutar contra a precarização é defender as mesmas condições e remuneração para o mesmo trabalho; é garantir ao jovem mais tempo para ser jovem, tempo para namorar, descansar, estudar, ter direito ao esporte e à cultura, estar com a família, fazer arte e, sobretudo, fazer política sem medo.
“Convido-te a crer em mim quando digo futuro”.
Silvio Rodríguez
É indispensável falar e escutar a juventude. É preciso abrir caminho ao protagonismo juvenil no movimento sindical como condição de seu futuro. Se o capitalismo disputa os jovens com tanto cinismo e hipocrisia, mas também com imensos recursos, qual deve ser o investimento necessário do sindicalismo em seu trabalho de juventude neste momento estratégico em que a luta do povo outra vez avança, como o demonstra o avanço das forças progressistas na América Latina?
O principal investimento é o político. Ensinar as lições de luta da historia e ouvir-lhes seus anseios, dúvidas, confusões, não como quem apenas ensina, mas sobretudo como quem estuda o idioma que permitirá vencer e garantir o futuro, não apenas do movimento sindical e operário, mas da própria humanidade.
Princípios e programa.
· O classismo: o capitalismo não oferece nenhum futuro à juventude. E nosso movimento expressa as verdadeiras mudanças de que carece a sociedade para atender a os anseios da juventude: a construção do socialismo, sociedade em que os produtores da riqueza possam compartilhá-la para o bem de todos. Essa é garantia de um futuro de felicidade, paz, democracia e liberdade, sem a opressão capitalista. E é uma bandeira de uma classe, a dos trabalhadores e trabalhadoras, cuja libertação tem o potencial para romper as cadeias de todas as opressões.
· A participação protagônica da juventude no movimento sindical merece o decidido apoio de todo o movimento. Isso significa que é necessário promover a liderança juvenil no movimento sindical, constituir instâncias e direções que tratem do tema em todos os níveis e a sua articulação a partir dos próprios jovens. A promoção de um crescente debate sobre a sucessão geracional no movimento. É necessário formar, apoiar e empoderar a juventude;
· A defesa de uma ampla unidade da juventude trabalhadora, explorada pelo capitalismo que lhes nega o futuro;
· A democracia, representativa e participativa, essencial à unidade. Sem a participação ativa dos jovens trabalhadores nas entidades sindicais não é possível desejar sua incorporação ativa. É necessário aperceber-se das portas à participação abertas pelo uso da internet, a evolução das formas de convocatória, as possibilidades de envolver amplos setores nas decisões dos sindicatos com a s novas tecnologias para que os jovens sejam parte da definição das reivindicações, mobilização, eleição de representantes, fortalecendo a liberdade de expressão e o debate;
· Liberdade e autonomia sindical que todavia não se confundem com neutralidade, mas com a afirmação dos interesses da classe. Trata-se da garantia de organização sindical no local de trabalho e do combate às práticas anti-sindicais. E autonomia tanto para apoiar governos que representem o interesse da classe como para disputar a agenda política através da mobilização social, sem alinhamento automático;
· Solidariedade e internacionalismo. A humanidade é uma. À hipocrisia da globalização da barbárie e da rapina capitalistas há que aprofundar a luta em cada país e ao nível internacional através de um ativo internacionalismo de massas. Os seres humanos não podem ser ilegais. Não à guerra e ao imperialismo!
· Não aceitamos a discriminação nem as intolerâncias, seja por cor, raça, etnia credo, origem, geração, gênero ou orientação sexual. Lutaremos com vigor por uma sociedade totalmente livre do machismo, do racismo, da homofobia, divisões que debilitam os ideais de igualdade e justiça social na luta contra o imperialismo e a exploração capitalista;
· A defesa do meio ambiente e do desenvolvimento são incompatíveis com uma sociedade subordinada exclusivamente ao mercado e aos lucros. Ademais, o capitalismo necessita da guerra para, ao fim de cada uma de suas crises, tentar impedir sua tendência de queda da taxa de lucro. Por isso destroem milhões de vidas, forças produtivas e a natureza. Também a dominância do capitalismo impede o desenvolvimento racional com respeito ao meio ambiente, impondo - pela pressão econômica e militar - grandes dificuldades às nações pobres que não podem optar livremente por um modelo de desenvolvimento mais avançado. Assim, sem ilusões, defendemos o direito ao desenvolvimento e a busca de alternativas de desenvolvimento que respeitem o meio ambiente, e sabemos que há distintos níveis de responsabilidade na degradação ambiental, diretamente proporcionais ao poderio econômico de algumas nações que são as maiores responsáveis pela crise ambiental, e que tentam ao mesmo tempo impor suas receitas aos países pobres.
Organização da juventude sindicalista.
Esta Primeira Conferência permitirá um olhar unitário das principais representações da juventude sindical classista. É espaço de reflexão e formulação privilegiado sobre os temas juvenis. Sua principal herança será constituir um enlace permanente que permita acumular o debate sobre a juventude no âmbito da Federação Sindical Mundial, permitindo tornar tal debate uma preocupação permanente e estabelecendo uma agenda mínima que permita avançar para uma efetiva articulação juvenil no âmbito da federação. Precisamos aprender com as experiências já em curso no âmbito do movimento das juventudes políticas e do movimento estudantil internacional.
Outra dimensão é a de cada país, em toda a rede da FSM. É necessário promover quadros jovens para o trabalho sindical, em especial ao nível das centrais sindicais, em sua própria estrutura, assim como em categorias em que a presença de jovens é evidente e massiva, mas sem sua equivalente representação nas direções sindicais.
A constituição de direções de jovens trabalhadores e de coletivos com representatividade nacional e em categorias claves são passos fundamentais para acumular o debate juvenil e criar uma reflexão própria dos jovens de como avançar na incorporação de outros. É a partir da socialização de tais experiências que poderemos ter uma reflexão permanente e de conjunto que permita à FSM avançar no trabalho de juventude.
Os avanços dos novos canais de comunicação, a internet, a telefonia móvel permitem ao mesmo tempo uma maior interação em tempo real que pode reduzir custos de transporte e comunicação, ao mesmo tempo uma verdadeira incorporação dos atores nas decisões cotidianas do movimento. Esses(as) jovens diretores(as) de departamentos juvenis e de sindicatos e categorias já utilizam tais tecnologias na vida normal, mas é necessário aprofundar o profissionalismo de sua utilização, capacitando o movimento sindical a falar com a mesma linguagem da juventude.
Por outro lado, a resistência ao neoliberalismo e mais recentemente os avanços na construção de governos progressistas tem criado várias oportunidades de encontro ao nível internacional, com destaque para a juventude. O movimento juvenil sindical internacional deve participar ativamente de todos esses espaços com sua própria agenda, seja no Movimento dos Festivais, no processo Fórum Social Mundial, nas cumbres, nas atividades internacionais no âmbito das categorias e mesmo em atividades esportivas e culturais.
A presença do movimento sindical juvenil classista nesses espaços não significa adesão a esta o aquela posição majoritária no debate político. É, em verdade, a trincheira de nossa opinião classista e antiimperialista e a abertura ao debate com amplos setores juvenis, sem exclusões nem sectarismos, mas tampouco com adesão e cumplicidade.
É importante participar e não se isolar para que nossas opiniões possam ter espaço e aproveitar esses momentos para termos uma agenda internacional que ajude a nossa reflexão sobre o sindicalismo juvenil e que permita construir redes e estruturas que impulsionem a luta sindical juvenil.
Formação e educação política.
Una dimensão da educação política e da formação é a incorporação da temática juvenil pela imprensa sindical em suas formas e conteúdos. A incorporação por parte do sítio na internet da Federação Sindical Mundial dos conteúdos juvenis é fundamental para que esse espaço seja referência para os países. A valorização do tema por parte da Federação tem – e isso é demonstrado pela própria Conferência – efeitos muito positivos no interior dos países e ao nível continental.
Por outro lado, é necessário acumular debates sobre tão distintas realidades juvenis no âmbito da Federação. Debates como o combate a xenofobia e a defesa dos direitos dos imigrantes, o impacto das novas tecnologias sobre a saúde física e psicológica – e a dependência química – entre os jovens, as mulheres jovens e a luta contra o machismo, o assédio moral e sexual e a juventude, os desafios à ampliação da filiação sindical juvenil, a sucessão rural e a permanência da juventude nas comunidades campesinas, o desemprego juvenil, o direito à educação da juventude trabalhadora, a luta contra as discriminações de gênero, raça e orientação sexual, novas formas de participação juvenil e novas tecnologias, cultura e juventude, categorias com maior potencial de organização juvenil e outros devem ser debatidos de maneira mais sistemática no seio da federação por tudo o que podem aportar à ampliação da presença juvenil no movimento sindical.
O projeto cultural da juventude sindicalista
Apesar de no âmbito nacional existir uma grande diversidade de manifestações culturais com presença juvenil e de a juventude ser criativa e culturalmente engajada, é forçoso reconhecer a ausência de debate sistematizado sobre as possibilidades do movimento sindical juvenil na cultura.
O primeiro passo para uma política cultural no âmbito da FSM talvez seja envolver a FSM de maneira mais ativa na construção de atividades culturais e políticas não marco de eventos internacionais tales como os Festivais mundiais da Juventude e dos Estudiantes, a s cumbres internacionais e o processo Foro Social Mundial e as atividades culturais estudantis (como no caso da OCLAE). Por sua dimensão continental e mundial e grande presencia juvenil, tais eventos permitiriam uma intervenção organizada da FSM e uma maior visibilidade, passos fundamentais para a experimentação e a construção de uma agenda cultural própria. Ao mesmo tempo, esta agenda pode permitir à FSM beneficiar-se da experiência das organizações nacionais aonde se realizem, aproveitando o que existe no seio da própria Federação. Outra possibilidade é aprender com as experiências mais consolidadas de diálogo entre cultura, juventude e movimento sindical, constituindo uma agenda cultural e de debate político que permita um trabalho mais sistemático na cultura.
A prática da solidariedade internacional
O inicio do século XXI vê a retomada de grandes mobilizações de sentido internacionalista e de denúncia do imperialismo e da guerra com grande protagonismo da juventude, a exemplo das mobilizações contra a invasão do Iraque, o 16º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes na Venezuela em 2005, a solidariedade a Cuba e ao povo Palestino, assim como o fortalecimento do Conselho Mundial da Paz. Tais fatos e a própria realidade política, econômica e ambiental estão a dizer à juventude que nossos destinos estão vinculados e abrem espaço a um internacionalismo de massas.
O crescente fortalecimento da Federação Sindical Mundial desde 2005 e a rearticulação de seu trabalho juvenil permite-nos pensar em como incorporar os jovens trabalhadores a esta corrente internacional que congrega organizações como FSM, FMJD, o CMP, a Rede Mundial dos Movimentos Sociais, a Aliança Social Continental, entre outras organizações.
A FSM pode contar com sua juventude para ser parte deste amplo movimento contra o imperialismo e a guerra, propondo as melhores formas de incorporação às lutas e aproveitando o potencial que tem os jovens sindicalistas para estabelecer pontes com outros movimentos sociais, como o estudantil, as juventudes políticas, o movimento de mulheres e o movimento cultural, entre outros. E, de nossa parte, devemos incorporar-nos decididamente a todos os espaços amplos de debate em que possamos expressar nossa mensagem classista, antiimperialista e anti-guerra, em especial os espaços com forte presença juvenil, para estabelecer o diálogo da FSM com os setores mais avançados da juventude.
Contribuição da CTB-Brasil à Conferência Internacional da Juventude Sindicalista.
Lima, Peru, 20 de novembro 2009.
Dedico essa intervenção a dois heróis do povo brasileiro, Zumbi dos Palmares - em cuja homenagem nessa data celebramos em marchas por todo o Brasil o Dia da Consciência Negra -, e Diógenes Arruda Câmara - bravo lutador pela democracia no Brasil - cuja morte completa 30 anos neste 25 de novembro.
Sindicalismo para a juventude, juventude para o sindicalismo.
Nesses dias em que as mentiras do “pensamento único” perderam a legitimidade arrogante do passado, é fundamental que o movimento sindical fale ao conjunto da juventude. Na triste noite neoliberal, os apologistas do individualismo cínico intentaram destroçar a principal característica nossa condição juvenil: a busca da construção de uma nova realidade em que caibam as novas gerações e a nossa rebeldia. A juventude luta principalmente por causas, não por cosas.
Todavia, essa ofensiva de direita tem cobrado um terrível preço ao movimento sindical. É necessário reconhecer que a defensiva estratégica de princípios dos noventa, a ênfase no individuo, o poder da grande mídia, o consumismo e suas ilusões foram responsáveis pelo afastamento de importante parte da juventude do movimento sindical. Reconhecer isso é fundamental para entender o desafio atual do movimento sindical classista: abrir as portas dos sindicatos aos jovens como condição de nosso próprio futuro e da nova luta pelo socialismo.
Ademais, a terceira revolução técnico-científica tem posto os jovens como protagonistas do processo produtivo em setores estratégicos e tem mudado a composição do proletariado. A juventude tem papel decisivo em categorias importantíssimas e temos que valorizar as oportunidades de crescimento nesses setores. O capital, hipocritamente, diz que deseja um “novo profissional”, que tenha iniciativa, consciência crítica para interferir e melhorar o processo produtivo, que trabalhe em equipes e tenha compromisso com os resultados coletivos, domínio de idiomas, filosofia, constante capacitação, etc.
Mas, como os jovens podem aceitar isso, se é feito somente em função dos mesmos capitalistas que destroem nossos sonhos de juventude, que nos excluem do emprego, que nos exploram brutalmente, que destroem sem pudores a natureza, que nos discriminam e separam por nossa condição de indígenas, negros, migrantes, mulheres e até por nossa opção sexual, a maneira de vestir e falar?
Em verdade, a produção mesma pede estes novos profissionais sim, e não apenas ela, porque a produção, a natureza ameaçada, a própria subjetividade humana negam as relações sociais capitalistas. Persiste vigente a lei da correspondência necessária entre as forças produtivas e as relações de produção, anunciando o anacronismo do capitalismo, cujas relações sociais baseadas na prevalência do lucro acima de qualquer coisa, colocando em risco a própria humanidade. Assim, há que dizer claramente que só o socialismo pode garantir aos jovens de hoje e de manhã o futuro. E temos que dizer isso à juventude que trabalha sob uma alienação brutal e não compreende as razões de seu desemprego e frustrações.
A redução da Jornada e a luta contra a Precarização do Trabalho
“A alienação do trabalhador em seu objeto é expressa da maneira seguinte, nas leis da Economia Política: quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem para consumir; quanto mais valor ele cria, tanto menos valioso se torna; quanto mais aperfeiçoado o seu produto, tanto mais grosseiro e informe o trabalhador; quanto mais civilizado o produto, tão mais bárbaro o trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, tão mais frágil o trabalhador; quanto mais inteligência revela o trabalho, tanto mais o trabalhador decai em inteligência e se torna um escravo da natureza.” Marx, Manuscritos Econômicos e filosóficos, O Trabalho Alienado.
Diante dessa realidade, é indispensável que todo o movimento sindical tenha como bandeiras centrais - pelo sentido especial que têm para toda a classe e em especial para a juventude – a defensa da redução da jornada de trabalho e a luta contra a precarização do trabalho. Desde os anos setenta do século passado com o advento da 3ª. revolução técnico-científica, avançou exponencialmente a produtividade do trabalho. Um(a) operário(a), um(a) campesino(a), um(a) trabalhador(a) dos serviços hoje em dia produz muito mais, sob um brutal ritmo de trabalho, e sua paga é exatamente a precarização das relações de trabalho. Não recebem mais, muito ao contrário, especialmente se levarmos em conta as proporções entre o produzido e recebido. E nas mesmas horas de trabalho – que muitas vezes são ampliadas - produz-se um mais valor cuja consequência é a demissão de seus colegas e novas moléstias laborais, inclusive psicológicas. E a juventude que realiza o mesmo trabalho dos demais, recebe menos e está sempre ameaçada com a demissão que intenta calar seu potencial rebelde.
Assim, a luta para incorporar as novas gerações à luta sindical é indissociável da defesa da redução da jornada e da luta contra a precarização. Reduzir a jornada e lutar contra a precarização é defender as mesmas condições e remuneração para o mesmo trabalho; é garantir ao jovem mais tempo para ser jovem, tempo para namorar, descansar, estudar, ter direito ao esporte e à cultura, estar com a família, fazer arte e, sobretudo, fazer política sem medo.
“Convido-te a crer em mim quando digo futuro”.
Silvio Rodríguez
É indispensável falar e escutar a juventude. É preciso abrir caminho ao protagonismo juvenil no movimento sindical como condição de seu futuro. Se o capitalismo disputa os jovens com tanto cinismo e hipocrisia, mas também com imensos recursos, qual deve ser o investimento necessário do sindicalismo em seu trabalho de juventude neste momento estratégico em que a luta do povo outra vez avança, como o demonstra o avanço das forças progressistas na América Latina?
O principal investimento é o político. Ensinar as lições de luta da historia e ouvir-lhes seus anseios, dúvidas, confusões, não como quem apenas ensina, mas sobretudo como quem estuda o idioma que permitirá vencer e garantir o futuro, não apenas do movimento sindical e operário, mas da própria humanidade.
Princípios e programa.
· O classismo: o capitalismo não oferece nenhum futuro à juventude. E nosso movimento expressa as verdadeiras mudanças de que carece a sociedade para atender a os anseios da juventude: a construção do socialismo, sociedade em que os produtores da riqueza possam compartilhá-la para o bem de todos. Essa é garantia de um futuro de felicidade, paz, democracia e liberdade, sem a opressão capitalista. E é uma bandeira de uma classe, a dos trabalhadores e trabalhadoras, cuja libertação tem o potencial para romper as cadeias de todas as opressões.
· A participação protagônica da juventude no movimento sindical merece o decidido apoio de todo o movimento. Isso significa que é necessário promover a liderança juvenil no movimento sindical, constituir instâncias e direções que tratem do tema em todos os níveis e a sua articulação a partir dos próprios jovens. A promoção de um crescente debate sobre a sucessão geracional no movimento. É necessário formar, apoiar e empoderar a juventude;
· A defesa de uma ampla unidade da juventude trabalhadora, explorada pelo capitalismo que lhes nega o futuro;
· A democracia, representativa e participativa, essencial à unidade. Sem a participação ativa dos jovens trabalhadores nas entidades sindicais não é possível desejar sua incorporação ativa. É necessário aperceber-se das portas à participação abertas pelo uso da internet, a evolução das formas de convocatória, as possibilidades de envolver amplos setores nas decisões dos sindicatos com a s novas tecnologias para que os jovens sejam parte da definição das reivindicações, mobilização, eleição de representantes, fortalecendo a liberdade de expressão e o debate;
· Liberdade e autonomia sindical que todavia não se confundem com neutralidade, mas com a afirmação dos interesses da classe. Trata-se da garantia de organização sindical no local de trabalho e do combate às práticas anti-sindicais. E autonomia tanto para apoiar governos que representem o interesse da classe como para disputar a agenda política através da mobilização social, sem alinhamento automático;
· Solidariedade e internacionalismo. A humanidade é uma. À hipocrisia da globalização da barbárie e da rapina capitalistas há que aprofundar a luta em cada país e ao nível internacional através de um ativo internacionalismo de massas. Os seres humanos não podem ser ilegais. Não à guerra e ao imperialismo!
· Não aceitamos a discriminação nem as intolerâncias, seja por cor, raça, etnia credo, origem, geração, gênero ou orientação sexual. Lutaremos com vigor por uma sociedade totalmente livre do machismo, do racismo, da homofobia, divisões que debilitam os ideais de igualdade e justiça social na luta contra o imperialismo e a exploração capitalista;
· A defesa do meio ambiente e do desenvolvimento são incompatíveis com uma sociedade subordinada exclusivamente ao mercado e aos lucros. Ademais, o capitalismo necessita da guerra para, ao fim de cada uma de suas crises, tentar impedir sua tendência de queda da taxa de lucro. Por isso destroem milhões de vidas, forças produtivas e a natureza. Também a dominância do capitalismo impede o desenvolvimento racional com respeito ao meio ambiente, impondo - pela pressão econômica e militar - grandes dificuldades às nações pobres que não podem optar livremente por um modelo de desenvolvimento mais avançado. Assim, sem ilusões, defendemos o direito ao desenvolvimento e a busca de alternativas de desenvolvimento que respeitem o meio ambiente, e sabemos que há distintos níveis de responsabilidade na degradação ambiental, diretamente proporcionais ao poderio econômico de algumas nações que são as maiores responsáveis pela crise ambiental, e que tentam ao mesmo tempo impor suas receitas aos países pobres.
Organização da juventude sindicalista.
Esta Primeira Conferência permitirá um olhar unitário das principais representações da juventude sindical classista. É espaço de reflexão e formulação privilegiado sobre os temas juvenis. Sua principal herança será constituir um enlace permanente que permita acumular o debate sobre a juventude no âmbito da Federação Sindical Mundial, permitindo tornar tal debate uma preocupação permanente e estabelecendo uma agenda mínima que permita avançar para uma efetiva articulação juvenil no âmbito da federação. Precisamos aprender com as experiências já em curso no âmbito do movimento das juventudes políticas e do movimento estudantil internacional.
Outra dimensão é a de cada país, em toda a rede da FSM. É necessário promover quadros jovens para o trabalho sindical, em especial ao nível das centrais sindicais, em sua própria estrutura, assim como em categorias em que a presença de jovens é evidente e massiva, mas sem sua equivalente representação nas direções sindicais.
A constituição de direções de jovens trabalhadores e de coletivos com representatividade nacional e em categorias claves são passos fundamentais para acumular o debate juvenil e criar uma reflexão própria dos jovens de como avançar na incorporação de outros. É a partir da socialização de tais experiências que poderemos ter uma reflexão permanente e de conjunto que permita à FSM avançar no trabalho de juventude.
Os avanços dos novos canais de comunicação, a internet, a telefonia móvel permitem ao mesmo tempo uma maior interação em tempo real que pode reduzir custos de transporte e comunicação, ao mesmo tempo uma verdadeira incorporação dos atores nas decisões cotidianas do movimento. Esses(as) jovens diretores(as) de departamentos juvenis e de sindicatos e categorias já utilizam tais tecnologias na vida normal, mas é necessário aprofundar o profissionalismo de sua utilização, capacitando o movimento sindical a falar com a mesma linguagem da juventude.
Por outro lado, a resistência ao neoliberalismo e mais recentemente os avanços na construção de governos progressistas tem criado várias oportunidades de encontro ao nível internacional, com destaque para a juventude. O movimento juvenil sindical internacional deve participar ativamente de todos esses espaços com sua própria agenda, seja no Movimento dos Festivais, no processo Fórum Social Mundial, nas cumbres, nas atividades internacionais no âmbito das categorias e mesmo em atividades esportivas e culturais.
A presença do movimento sindical juvenil classista nesses espaços não significa adesão a esta o aquela posição majoritária no debate político. É, em verdade, a trincheira de nossa opinião classista e antiimperialista e a abertura ao debate com amplos setores juvenis, sem exclusões nem sectarismos, mas tampouco com adesão e cumplicidade.
É importante participar e não se isolar para que nossas opiniões possam ter espaço e aproveitar esses momentos para termos uma agenda internacional que ajude a nossa reflexão sobre o sindicalismo juvenil e que permita construir redes e estruturas que impulsionem a luta sindical juvenil.
Formação e educação política.
Una dimensão da educação política e da formação é a incorporação da temática juvenil pela imprensa sindical em suas formas e conteúdos. A incorporação por parte do sítio na internet da Federação Sindical Mundial dos conteúdos juvenis é fundamental para que esse espaço seja referência para os países. A valorização do tema por parte da Federação tem – e isso é demonstrado pela própria Conferência – efeitos muito positivos no interior dos países e ao nível continental.
Por outro lado, é necessário acumular debates sobre tão distintas realidades juvenis no âmbito da Federação. Debates como o combate a xenofobia e a defesa dos direitos dos imigrantes, o impacto das novas tecnologias sobre a saúde física e psicológica – e a dependência química – entre os jovens, as mulheres jovens e a luta contra o machismo, o assédio moral e sexual e a juventude, os desafios à ampliação da filiação sindical juvenil, a sucessão rural e a permanência da juventude nas comunidades campesinas, o desemprego juvenil, o direito à educação da juventude trabalhadora, a luta contra as discriminações de gênero, raça e orientação sexual, novas formas de participação juvenil e novas tecnologias, cultura e juventude, categorias com maior potencial de organização juvenil e outros devem ser debatidos de maneira mais sistemática no seio da federação por tudo o que podem aportar à ampliação da presença juvenil no movimento sindical.
O projeto cultural da juventude sindicalista
Apesar de no âmbito nacional existir uma grande diversidade de manifestações culturais com presença juvenil e de a juventude ser criativa e culturalmente engajada, é forçoso reconhecer a ausência de debate sistematizado sobre as possibilidades do movimento sindical juvenil na cultura.
O primeiro passo para uma política cultural no âmbito da FSM talvez seja envolver a FSM de maneira mais ativa na construção de atividades culturais e políticas não marco de eventos internacionais tales como os Festivais mundiais da Juventude e dos Estudiantes, a s cumbres internacionais e o processo Foro Social Mundial e as atividades culturais estudantis (como no caso da OCLAE). Por sua dimensão continental e mundial e grande presencia juvenil, tais eventos permitiriam uma intervenção organizada da FSM e uma maior visibilidade, passos fundamentais para a experimentação e a construção de uma agenda cultural própria. Ao mesmo tempo, esta agenda pode permitir à FSM beneficiar-se da experiência das organizações nacionais aonde se realizem, aproveitando o que existe no seio da própria Federação. Outra possibilidade é aprender com as experiências mais consolidadas de diálogo entre cultura, juventude e movimento sindical, constituindo uma agenda cultural e de debate político que permita um trabalho mais sistemático na cultura.
A prática da solidariedade internacional
O inicio do século XXI vê a retomada de grandes mobilizações de sentido internacionalista e de denúncia do imperialismo e da guerra com grande protagonismo da juventude, a exemplo das mobilizações contra a invasão do Iraque, o 16º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes na Venezuela em 2005, a solidariedade a Cuba e ao povo Palestino, assim como o fortalecimento do Conselho Mundial da Paz. Tais fatos e a própria realidade política, econômica e ambiental estão a dizer à juventude que nossos destinos estão vinculados e abrem espaço a um internacionalismo de massas.
O crescente fortalecimento da Federação Sindical Mundial desde 2005 e a rearticulação de seu trabalho juvenil permite-nos pensar em como incorporar os jovens trabalhadores a esta corrente internacional que congrega organizações como FSM, FMJD, o CMP, a Rede Mundial dos Movimentos Sociais, a Aliança Social Continental, entre outras organizações.
A FSM pode contar com sua juventude para ser parte deste amplo movimento contra o imperialismo e a guerra, propondo as melhores formas de incorporação às lutas e aproveitando o potencial que tem os jovens sindicalistas para estabelecer pontes com outros movimentos sociais, como o estudantil, as juventudes políticas, o movimento de mulheres e o movimento cultural, entre outros. E, de nossa parte, devemos incorporar-nos decididamente a todos os espaços amplos de debate em que possamos expressar nossa mensagem classista, antiimperialista e anti-guerra, em especial os espaços com forte presença juvenil, para estabelecer o diálogo da FSM com os setores mais avançados da juventude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário